Minas Gerais é famosa por sua forte tradição culinária e essa tradição foi reconhecida como Patrimônio Cultural pelo governo do estado sendo parte integrante do Plano Estadual de Desenvolvimento da Cozinha Mineira lançado em 2021. Além da relevância cultural da culinária mineira, a importância econômica oriunda dessa tradição é inquestionável, sendo a gastronomia considerada um setor estratégico para o desenvolvimento socioeconômico de Minas Gerais.
Entretanto, apesar de todo esse reconhecimento, percebe-se que há uma lacuna que contemple os cozinheiros autônomos de Minas Gerais. Considera-se cozinheiro autônomo todo profissional de cozinha que prepara e comercializa pratos salgados ou doces de forma independente, seja em sua residência ou em pequeno comércio, e sem suporte estruturado para divulgação e comercialização dos seus produtos, não estando, por esse motivo, inserido em nenhum aplicativo de “venda de comida”.
Pode-se caracterizar o perfil desse empreendedor como: possuidor de poucos recursos financeiros e que trabalha em condições limitadas de acesso a crédito e a estratégias de divulgação – normalmente restritas a um pequeno grupo de contatos, formado por parentes, amigos, conhecidos e comunidade local, o que traz limitações para a ampliação de seus negócios. Por outro lado, esses cozinheiros autônomos, muitas vezes, são detentores de um extraordinário repertório de conhecimentos imateriais (por vezes tradicionais e, por vezes, criativos e inovadores) que se materializam como experiências únicas, saborosas e criativas para o consumidor de seus produtos.
Nesse sentido, em sintonia com as iniciativas de valorização e fortalecimento voltadas ao incremento desse setor, foi criado o Caçarola, um projeto que tem por objetivo dar visibilidade à categoria profissional dos cozinheiros autônomos a partir de algumas iniciativas como: divulgação de seu nome/marca e de seus produtos através de um aplicativo e website; oferecimento de capacitação técnica e tecnológica, e pelo registro das suas narrativas de vida em retratos simbólicos e de memória (inclusive afetiva) relativa aos “pratos” produzidos num resgate social e cultural da sua história. O Projeto possui, portanto, três linhas de atuação: um viés socioeconômico; um viés cultural e um viés de pesquisa que será desenvolvido por meio do projeto Cartografia simbólico-afetiva.
O projeto Cartografia simbólico-afetiva contempla a realização de um estudo sobre o imaginário ligado à gastronomia mineira baseado nas oralidades e nas histórias de vida dos cozinheiros. Especificamente, o projeto busca conhecer os cozinheiros autônomos e, por meio da relação entre memória, história, lugar, crenças, sentimentos e profissão, vistos numa perspectiva simbólica, evocar a imagem que essa relação suscita.
Essa cartografia configura-se como uma estrutura descritiva daquilo que emerge do testemunho do sujeito, por meio de sua oralidade, enquanto protagonista de uma memória e de uma história coletiva. Tem a ver com os lugares, as vivências e como as situações se inscreveram para ele. Parte do referencial da memória enquanto faculdade humana que permite armazenar o que foi vivenciado no passado, além de permitir evocar essas imagens no tempo presente. Constitui-se uma representação seletiva do passado de um indivíduo, inserido em um grupo social, em um determinado espaço físico e tempo
O projeto apresenta, além do aspecto de pesquisa, uma vertente extensionista, sendo cadastrado na Pró-Reitoria de Extensão sob o número 404348.