Nas discussões epistemológicas sobre a Ciência da Informação (CI) é possível verificar que se tem configurado no campo o desenvolvimento de uma perspectiva evolutiva relacionada aos conceitos de multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Esta constatação considera, segundo o professor Armando Malheiro, da Universidade do Porto, que várias das vertentes interdisciplinares da Ciência da Informação resultam, evolutivamente, de uma dinâmica de fusão de diferentes disciplinas, o que permite recuperar a definição de Harold Borko, em artigo de 1968, que considera a CI como uma ciência interdisciplinar que estuda as propriedades e o comportamento da informação, as forças que governam seu fluxo e os meios de processá-la para otimizar sua acessibilidade e uso.
Várias pesquisas tem reforçado essa compreensão e contribuído para consolidar o aspecto interdisciplinar desta Ciência às quais se juntam os estudos desenvolvidos na Universidade Federal de Minas Gerais, em especial, os que utilizam o imaginário como objeto sobre o qual se aplica uma hermenêutica com vista a compreender os comportamentos informacionais dos sujeitos.
A fim de consolidar essa perspectiva interdisciplinar e solidificar o binômio informação-imaginário no campo foi criado, em janeiro de 2017, o Gabinete de Estudos da Informação e do Imaginário (GEDII).
Associar essas duas “vertentes” inspira uma incursão pela mitologia romana e uma alusão a Jano, um dos mais antigos e maiores deuses do Panteão romano, que recebeu de Saturno o dom da “dupla ciência” (a do passado e a do futuro). Jano foi representado como um ser de duas faces voltadas em sentido contrário cujo duplo rosto significa que ele vela as entradas e as saídas e que ele olha tanto para o interior como para o exterior: um deus das transições e passagens.
Essa dimensão, quando aplicada ao binômio informação-imaginário, corresponde à dupla face que exprime o entrelaçamento da Psicologia e Antropologia com a CI, não em nível de colaboração, mas visando e se consolidando como uma unidade de conhecimento numa perspectiva integralizadora que contempla as dimensões social, histórica, cultural e psíquica – sendo que esta última dimensão engloba os aspectos cognitivos, afetivos e perceptivos tanto conscientes quanto inconscientes.
Esta vertente de pesquisa pressupõe a análise dos fenômenos info-comunicacionais sob uma dimensão simbólica que utiliza o imaginário como o objeto sobre o qual se aplica uma hermenêutica e na qual o percurso metodológico passa a se configurar como uma “estratégia estruturante” de pesquisa.